“Nós somos um país rico, mas com 80% da população brasileira objetivamente pobre. Pela comparação internacional, são pessoas que não têm acesso às benesses do mundo moderno. Destes 80%, metade passa fome e a outra metade sobrevive com muita dificuldade, sem acesso à saúde e educação de qualidade. E quem não tem esse acesso se sente humilhado. O conceito de humilhação é extremamente importante para que se entenda o pobre de direita”, explica o sociólogo.
Para Souza, além do sentimento de humilhação, que provoca cisões estruturais entre os cidadãos de classe econômica baixa, a desinformação e a manipulação de informações midiatizadas são decisivas para a escolha de políticas que favorecem as elites, e não as pessoas mais vulneráveis. “Esse cidadão foi manipulado a vida inteira (...). Toda a informação é midiatizada, seja um livro, um filme ou um jornal”.
O sociólogo diz que a falta de informação gera uma sensação de culpa pelo próprio fracasso, agravada por uma onda de religiões neopentecostais, incentivo ao racismo e aversão à esquerda. “Esse pessoal se apropria da religiosidade afro, do sincretismo brasileiro (...) e reverte isso com uma pátina judaico-cristã, e aí você retira a inteligência dele. Você tem o sacrifício do intelecto aí.” Ele ressalta que esse debate pode ser observado também no cenário internacional, especialmente diante da iminência de mudanças com a posse de Donald Trump na Presidência dos Estados Unidos. De acordo com Souza, a extrema direita no país está se organizando há pelo menos 50 anos.
O escritor destaca que, diferentemente do nazismo alemão e do fascismo italiano, a extrema direita americana não tem na esquerda política um opositor. “Para esse grupo, são os acordos civilizatórios básicos que foram construídos nos últimos cinco mil anos de cultura. A diferença entre verdade e mentira, o belo e o feio. E daí, você manipula o público”, afirma.
Questionado sobre o futuro das linhas mais progressistas da política no Brasil, diante da polaridade do eleitorado, Jessé Souza enfatiza que é preciso reescrever a história do país. "Você tem que mostrar como esse país efetivamente é explicado por intelectuais de uma forma mentirosa e elitista há 100 anos, ou isso e monta uma forma alternativa de como o país funciona, ou não existe esquerda”, conclui.
O programa DR com Demori vai ao ar toda terça-feira, às 23h, na TV Brasil, App TV Brasil Play e no You Tube, além de ser transmitido pelas rádios Nacional FM e MEC.
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